CARTA AO INVISÍVEL
carta ao invisível |
sei que você pode estar no ar
saindo de um corpo e entrando em outro
infiltrado na pata de um cachorro
impregnado nas vestes de um mendigo
ou até caído na calçada
estirado na sarjeta
te vejo nos olhos das poucas pessoas
com quem cruzo na rua
te imagino nas mãos da minha mãe
indo em direção à boca pra provar a comida
e depois no próprio tempero
temo sua existência no espirro do vizinho
outras vezes te sinto dentro de mim, oculto
acho até que já nos esbarramos dentro de casa
que nos olhamos no espelho
ou que você está pousado como uma mosca nas coisas
deitado ao meu lado na cama
que fez parte de um sonho que esqueci ao amanhecer
outras vezes te sinto dentro de mim, oculto
acho até que já nos esbarramos dentro de casa
que nos olhamos no espelho
ou que você está pousado como uma mosca nas coisas
deitado ao meu lado na cama
que fez parte de um sonho que esqueci ao amanhecer
ou que talvez eu tenha te amamentado sem ter te encostado
justo eu, que sempre quis me desfazer das mascaras
farta de respirar meu próprio ar
cada vez mais longe das certezas
não posso mais deixar você passar
despercebido
justo eu, que sempre quis me desfazer das mascaras
farta de respirar meu próprio ar
cada vez mais longe das certezas
não posso mais deixar você passar
despercebido