RITOS ÍNTIMOS PARA MULHERES
cantar a carne de volta aos ossos
| BEM VINDA, AVENTURINA!
Nos últimos anos, tenho pesquisado eco-feminismo, o conceito de corpo selvagem e principalmente experimentado meu corpo, enquanto natureza. Viver perto do mar, cachoeiras, mata e aldeia, intensificou bastante esta relação. Sou professora e praticante de yoga e meditação há mais de 15 anos, fiz também um curso de yoniterapia e outro de constelação familiar, que me trouxeram novas ferramentas. Juntei estes conhecimentos à minha bagagem e os reformulei em 08 ritos/exercícios, simples e acessíveis, para serem incorporados na vida que levamos na cidade. Nos meus processos de cura, a leitura e a escrita foram ferramentas fundamentais. Portanto, neste curso, elas serão usadas também, como forma de compartilhar e digerir questões que forem surgindo no processo, criando uma rica matéria orgânica. Me enxergo neste trabalho, como uma facilitadora para processos internos e pessoais, que serão acolhidos e potencializados através de auto-estudo, trocas, leitura e escrita.
CONCEITO
“A primeira máquina produzida pelo capitalismo foi o corpo humano, e não a máquina a vapor ou o relógio.” – Silvia Federici | Calibã e a Bruxa
“Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós, tem decididamente quatro patas.”- Clarissa Pinkola Estés | Mulheres que correm com os lobos
Corpo selvagem é o corpo animal, aquele instintivo e intuitivo. Ao contrário do domesticado, que foi sendo anestesiado através dos tempos por motivos culturais, sociais etc...
Com a acumulação primitiva e a passagem para o regime capitalista, o corpo masculino foi transformado em uma máquina de trabalho enquanto o feminino foi sujeitado a mera reprodução e manutenção desta força.
Centenas de milhares de mulheres foram queimadas vivas, enforcadas e torturadas durante a caça às bruxas na Europa, evento que pouco é comentado quando aprendemos historia na escola, mas que foi um grande marco. As mulheres encarnavam o lado selvagem da natureza: desordenado, incontrolável, antagônico. O mesmo papel que representavam os negros e indígenas no período colonial. O ataque à resistência que as mulheres representavam em virtude de sua sexualidade, do controle sobre a reprodução e sobre a sua capacidade de cura, instaurou definitivamente a sociedade patriarcal. Junto com seus corpos, foram também queimadas histórias, rituais que eram passados de mãe para filha, conhecimento sobre ervas, medicinas tradicionais, uso de cristais e diversas outras tecnologias femininas.
Com o apoio da religião católica, cristalizou-se em nossa sociedade o conceito de céu e inferno, bem e mal e o corpo foi coberto por culpas e vergonhas. Com o iluminismo, a razão (externa) foi supervalorizada em detrimento das paixões, desejos, apetites e intuições (internas) do corpo. O corpo foi sendo desmembrado para o estudo cientifico de sua anatomia. As parteiras foram substituídas por médicos. A mulher foi colocada numa posição passiva no momento do parto. Com a industrialização, o corpo foi mecanizado e uniformizado. Começou a ser explorado. A magia foi aniquilada e o corpo assim, foi profanado e se tornou cada vez mais vulnerável a fatores externos, sujeito ao adoecimento. Com a violência explicita e banalizada, nossos corpos foram desumanizados. Ao nos afastarmos da natureza, se tornam cada vez mais previsíveis e anestesiados. Com a domesticação e o excesso de higiene, vamos também nos afastando dos próprios resíduos e ciclos. Perdemos a soberania alimentar, uma vez que perdemos o contato direto com a terra ou com quem produz o alimento que acabamos por ingerir. Desta forma, ingerimos muitos agrotóxicos e similares usados por cadeiras industriais de produção. A tecnologia a que temos acesso, nos leva a supressão do “estado natural”, definido pela luz solar, e talvez por isso, começamos a dormir muito menos e com menor qualidade. E, finalmente, ao nos aglomerarmos em cidades, estamos sujeitos à poluição sonora e visual que cresce exponencialmente.
Por todos estes motivos, a qualidade da nossa presença foi ficando comprometida, assim como nossa autoestima. Nossos bloqueios físicos e questões de gênero, estão diretamente ligados à forma como a sociedade patriarcal se construiu artificialmente contra o poder da nossa natureza, estabelecendo um divórcio, desequilíbrio e distorção entre as forças masculina e feminina, dentro e fora do nosso corpo.
Mas se você, em algum momento, sentiu-se agredida, tem uma cicatriz profunda, ou gosta tanto do céu ou da água, que mal consegue suportar, isso é um chamado. Para recuperar o corpo selvagem é preciso sussurrar aos esqueletos da historia e ouvir uma voz, que é mais antiga que a das pedras ou montanhas. É preciso reaprender a confiar na intuição, abrindo os milhares de olhos espalhados pelo seu corpo, assim como estrelas se espalham no céu. O corpo selvagem é fluente no linguajar do sonho, da paixão, do amor e da poesia. Pode ser resgatado tanto na lagrima, como no oceano. Reencontrar o corpo selvagem, é cantar a carne de volta aos ossos. É despir mantos falsos que tenhamos recebido.
Não precisamos abrir mão de algumas coisas que construímos (independência, tecnologia, conforto) mas, podemos e devemos, recuperar aquilo que nos foi tomado.
METODOLOGIA
Os ritos são íntimos, você faz em casa à sua maneira e no seu tempo. O mais importante é difundir estas tecnologias ancestrais que nós perdemos contato. Cada rito é atrelado a um conto do livro “Mulheres que correm com os lobos”. No decorrer dos trabalhos, é importante prestar atenção aos sonhos e anotar as memórias que vierem à tona num caderno. Os ritos / exercícios podem ser baixados por aqui, gratuitamente, mas o acompanhamento pode facilitar o processo de auto-descoberta. A troca em grupo também pode levar a prática a outras esferas na descoberta do feminino sagrado. O acompanhamento pode ser feito individualmente ou em grupo (pelo WhatsApp), para tal, entre em contato pelo email lucilalosito@gmail.com. Aqui você pode baixar a proposta na íntegra.
Rito 1: banho/infusão
> La Loba
> Os quatro Rabinos
Rito 2: auto-toque/massagem
> O Barba Azul
Rito 3: respirações/meditação
> Vasalisa
Rito 4: postura yoga
> Sapatinhos Vermelhos
Rito 5: pompoarismo vibracional
> Mulher Esqueleto
Rito 6: respiração ovárica
> La Mariposa
Rito 7: mandala lunar
> As Deusas Sujas
Rito 8: cristaloterapia
> A Donzela Sem Mãos
Foto da Carolina Mascarenhas